Atordoados

[13/10/2013 – Domingo] Os grupos sobreviventes realmente precisarão de um longo tempo de reflexão antes que possam começar a compreender o que se passou e o que se apresentou. Sucede que a atmosfera do planeta mudou com a sutil mudança do eixo terrestre, e com isto a reação dos corpos e toda química humana. Ainda não se tem conhecimento do contingente humano que resta no planeta, mas estima-se que já conseguiram contatar com cerca de 1/3 dos que aqui habitavam. O que está se vendo são reações de torpor ou o que poderia ser descrito como uma espécie de sonolência emocional, que mantém esses grupos prostrados, com movimentos “em câmara lenta” durante bastante tempo, antes de conseguirem retornar a certa atividade. Há momentos de agitação que emerge do sentimento de rompimento e perda com tudo o que era conhecido. O planeta acordou como acorda a natureza depois de uma formidável tempestade: porções de terra e de vegetação “lavados”, escombros indefinidos em alguns pontos e uma infinidade de perguntas no ar. [Registro 4]

Um comentário:

mauricio delalba disse...

daqui 2013 vemos essas construções em toda sua majestade, durações construídas que ainda não amoleceram, ainda não suaram todos os seus grãos pelos castelos de areia do tempo. Um dia não estavam ali, um dia também passarão, foi quando vi que a única barreira separando um dia do outro na verdade é uma ponte, vida, que dura além de seus nascimentos e mortes, naturalmente. A erosão das eras passa diante de mim com ares de cinema transparente, sinto meu coração menos lento em reconhecer na certeza do vento o canto invisível da fé. Levanto a cabeça, encaro abertamente o azul e todas as nuvens se escancaram pra dentro do meu olho. Impressões se formam espontaneamente como gotas suspensas, oceanos contendo todas as moléculas que já formei, formo e formarei, quando de novo me vejo olhando as construções de rocha como se no mesmo instante, ou seguinte, elas não estivessem mais ali, para em seguida, ou simultaneamente, se mostrarem sólidas como nunca. As rochas nunca foram tão lúcidas! tão pura luz vibrando baixo a ponto de ocupar um nome no mundo das coisas visíveis!